Com apoio do Floresta+, indígenas Tikuna participam de formação sobre etnoecologia e proteção territorial na fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru

Sumário

Projeto realiza ciclo de oficinas na Aldeia Umariaçu I, em Tabatinga, na tríplice fronteira

Quando um indígena Tikuna olha uma planta, ele enxerga uma floresta inteira e, a partir dela, os recursos para sua vida. É assim que essa etnia, o maior grupo indígena da Amazônia e um dos maiores do Brasil, reproduz, há séculos, os conhecimentos, os saberes e a conservação das riquezas da floresta. Nesse sentido, o “Projeto Cuidando da Floresta para Manter Viva e Forte a Cultura” vem sendo desenvolvido na Aldeia Umariaçu I, em Tabatinga, no extremo Oeste do Amazonas. A iniciativa é uma parceria da comunidade, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Floresta+ Amazônia, no âmbito da Modalidade Comunidades. 

Os módulos abordam temas como monitoramento ambiental, entre outros

A proposta do projeto consiste em um ciclo de oficinas divididas em quatro módulos com temas que vão desde a produção e manejo de mudas, etnoecologia até gestão e monitoramento ambiental. Na grade de conteúdos oferecidos, estão temas como monitoramento territorial, gestão de conflitos, legislação indígena e desenvolvimento de projetos. Os participantes ainda aperfeiçoam os aprendizados sobre o uso de GPS e softwares de mapeamento territorial e leis de demarcação das terras indígenas.

Produção e manejo de mudas também está entre os temas abordados nas oficinas

Segundo o comunicador indígena e assistente de projetos da Coiab, Jeck Neco Araújo, as oficinas são ofertadas na própria aldeia e seguem até outubro deste ano. A formação consiste em um ciclo de um ano e três meses de atividades. Ao final, os/as participantes receberão uma certificação de técnico em Etnoecologia e Agricultura. 

“Nós temos oficinas todas as semanas. Todos gostam muito e aprendem a cultivar e produzir mudas, além de proteger nosso território. Toda planta, para nós, é um pedaço da floresta”, enfatizou Jeck, que vive na aldeia, próximo ao centro de Tabatinga e a poucos metros da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.  

Capacitação de lideranças e jovens é um dos objetivos do projeto

Jeck Neco também conta ainda que o projeto (Nunatadaugü i torünãinecümaüü i poraü i torütacümaca, na língua Tikuna) é um momento de aprendizado, troca e muito cuidado com a terra e a vida que ela dá aos indígenas. “Estamos capacitando nossas lideranças e jovens em monitoramento etnoterritorial e ambiental, além de gestão dos recursos naturais, para proteger nosso território com respeito e sabedoria ancestral. Trabalhamos juntos, com o coração e o pensamento do nosso povo. Cada passo é feito pensando no equilíbrio da floresta e na força da nossa cultura”, completou. 

Os Tikuna são o maior grupo étnico indígena do Brasil

As oficinas também têm o objetivo de aumentar as capacidades para tomada de decisão por meio do fortalecimento da liderança, autonomia e empoderamento de monitores, fortalecer o conhecimento sobre mapeamento e monitoramento do território visando aumentar a segurança contra o desmatamento e o garimpo ilegal. Ainda surgem com a proposta de promover o diálogo entre as gerações e os saberes tradicionais e científicos, fortalecendo a cultura indígena, além de ampliar a incidência política e jurídica para defesa dos direitos indígenas e melhorar as condições econômicas das comunidades por meio da elaboração de projetos de captação de recursos.

Thaisa Fernandes Cândido vive na aldeia e é uma das indígenas que está participando das oficinas, além de ser jovem comunicadora do projeto. “O projeto é muito interessante pra comunidade. Muitos jovens da aldeia que estão fazendo o curso estão empolgados com os aprendizados e vão usar muitas coisas novas que estão aprendendo”, afirmou orgulhosa. 

Valorizar conhecimento tradicional é uma das características da etnoecologia

Etnoecologia – É o campo de conhecimento das relações entre os povos e o ambiente natural a partir de suas próprias percepções, saberes e práticas culturais. Valoriza o conhecimento tradicional acumulado ao longo de gerações, incorporando aspectos simbólicos, espirituais e práticos na maneira como diferentes culturas compreendem e interagem com a natureza. Ela parte do princípio de que o conhecimento ecológico não é exclusivo da ciência ocidental, reconhecendo a importância dos saberes locais na conservação da biodiversidade e no uso sustentável dos recursos naturais.

No contexto dos povos indígenas, a etnoecologia é especialmente relevante, pois revela como eles constroem modos de vida profundamente integrados aos ecossistemas onde vivem. Povos indígenas da Amazônia, por exemplo, desenvolvem sistemas complexos de manejo da terra, das águas e das florestas, que garantem o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar de suas comunidades. Ao reconhecer a etnoecologia indígena, não apenas se valoriza o papel dos povos originários como guardiões da biodiversidade, mas também se aponta caminhos para políticas públicas mais justas, participativas e alinhadas com a realidade sociocultural dos territórios tradicionais.

Comunicação – Além dos aprendizados, o projeto também valoriza muito os jovens da aldeia, por isso formou um grupo de comunicadores, que se encarregam de registrar as oficinas e encontros, e ainda divulgar as atividades nas diversas redes e coletivos que os Tikuna participam.  

Jovens da aldeia formam um grupo de comunicadores para divulgar ações da comunidade

Para a integrante da Coiab Rosibel Baré, o projeto tem sido muito especial para os jovens e para as mulheres da aldeia. Além das oficinas, participam de intercâmbios e discussões para desenvolver novas técnicas para artesanato e participação em feiras com foco no fortalecimento do turismo. Outro ponto relevante que ela destacou do projeto é que os professores são indígenas e falam línguas que toda a comunidade entende. 

“Além das formações, que são importantes para a comunidade, a gente também contrata professores locais, que já possuem formação em ecologia e são falantes da língua Tikuna. Assim, os alunos se sentem mais à vontade e conseguem absorver melhor o conteúdo ministrado e se interessam muito mais pelas atividades práticas”, explicou Rosibel.    

Povos indígenas são os guardiães da bioversidade

Sobre o Projeto Floresta+ Amazônia – É uma iniciativa de cooperação internacional liderada pelo Governo brasileiro, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e financiado com recursos do Fundo Verde para o Clima (GCF).

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