Que os povos originários da Amazônia são protetores da natureza e sabem a importância da floresta para o equilíbrio ambiental e da vida, não é novidade. E para reconhecer ainda mais esse papel fundamental dos indígenas, o Floresta+ Amazônia realizou, entre os dias 28 de julho e 1 de agosto, um mutirão integrado voltado à parte dos indígenas que vivem na Comunidade Uaupés, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM). A cidade, no alto Rio Negro, tem a maior população indígena no Brasil, reunindo mais de 24 etnias.

Nos seis dias de serviços, 464 agricultores foram atendidos (sendo 284 mulheres – 61%), 452 receberam atendimentos de Cadastro Ambiental Rural (CAR) e 300 se inscreveram no Edital de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Floresta+ Amazônia e, após análise, poderão receber benefícios financeiros pela área conservada em suas propriedades rurais. Entre os inscritos há indígenas das etnias Baré, Bará, Pira-Tapuya, Tariano, Tuyuka, Wanano, Baniwa, Tessano Tukano, Koripako, Desano, Kubeu, Mirity-Tapuia e Arapaso, entre outras.
A ação foi realizada em conjunto com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), que fez a análise e validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), e com o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que já vem atuando na área desde 2008 e forneceu aos agricultores da Uaupés a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), que é um instrumento legal, com força de escritura pública e que transfere o direito de uso de um imóvel da reforma agrária para um beneficiário, de forma gratuita. A ação também só foi possível pela atuação da Associação Agrícola Teotônio Ferreira, que faz a gestão da comunidade e vem mobilizando os agricultores para a regulação fundiária e ambiental, além da garantir a presença de todos no mutirão. A Prefeitura e a Câmara Municipal também apoiaram a ação.
Liderança indígena que sempre incentivou a regulação e a importância da conservação, Rosa Mota, agradeceu a presença das organizações, que, segundo ela, só trarão benefícios para a comunidade. “Desde que eu era presidente da Associação Teotônio Ferreira, eu já falava sobre os benefícios de se manter regularizado e de preservar a natureza pro futuro dos nossos filhos. Nós, indígenas, trabalhamos deixando a reserva, mesmo tendo a capoeira, mesmo produzindo, a gente não desmata tudo, sempre pensando no futuro dos nossos filhos”, explicou liderança, que é da etnia Baré.
Para os agricultores e agricultoras que cumpriram o critério analisados no mutirão a partir da vegetação remanescente e se inscreveram no edital, receber o PSA é um “presente” a mais para quem já preserva a floresta ao redor das roças e nas nascentes dos igarapés, cenário muito comum nos terrenos da comunidade Uaupés. É o exemplo do casal Olímpia e Arthur, ela Baré e ele Werekena.
“Eu me sinto muito feliz por ter feito a inscrição nesse projeto. Com esse dinheiro, vou poder me dedicar à criação dos animais, à horta e a preservar a floresta”, disse Olímpia. Para seu Arthur, preservar a floresta é pensar no futuro dos filhos e dos netos. “Esse mutirão foi muito bom. A gente não pensa só em nós, a gente não pensa só em ganhar dinheiro, a gente pensa em preservar a área mesmo. No nosso terreno a gente se sente bem, não é como na cidade”, disse o agricultor.

A agricultora Rosália Freitas dos Santos, da etnia Tukano, achou que se inscrever no edital é uma “oportunidade” para produzir e preservar. “A gente sobrevive da agricultura, produz, planta e colhe, mas preservar a floresta também é importante para nós. E todo mundo sabe que desmatar e queimar a mata é crime”, disse ela, que produz macaxeira, açaí e outras frutas.

Ação integrada e em rede – Os resultados só foram possíveis graças à ação em rede e integração entre os órgãos fundiários, ambientais e o Floresta+. A primeira iniciativa começou ainda em 2008, quando o Incra realizou o trabalho de identificação do perfil da área para regulação fundiária e, entre 2023 e 2025, fez a emissão de 549 CDRU´s, o que permitiu a essas famílias avançar nas etapas de cadastro ambiental e inscrição no edital do CAR durante o mutirão. Outras famílias da comunidade ainda podem ser beneficiadas.
Sobre o Projeto Floresta+ Amazônia – O Floresta+ Amazônia é uma iniciativa de cooperação internacional liderado pelo Governo Brasileiro, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com financiamento do Fundo Verde para o Clima (GCF).
O post Mutirão integrado no Amazonas inclui agricultores e agricultoras familiares indígenas no edital de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) apareceu primeiro em Projeto Floresta+ Amazônia.